Paulo Marcelo (Artigo Jornal Diário do Nordeste)

10 de janeiro de 2009 - 12:30

 

 

Há 20 anos a medicina cearense se via desfalcada de um dos seus maiores talentos. Em um domingo de janeiro coriscado de luz, morria Paulo Marcelo Martins Rodrigues.

Morria não seria o termo adequado. Tombava. Desta maneira se vão os monumentos e os heróis: tombam, de peito enfraquecido, mas erguido.

Como as árvores frondosas, golpeiam-nas. Como as águias ganhando os céus, alçam-nas. Marcelo é de dimensão transcendental. Imensurável. É tão presente entre nós, que deixou sua sombra avultar em nossas vidas.

Luz que nunca se vai. Diante de um paciente grave, de diagnóstico difícil, com inúmeras patologias, parece-me ver, ao lado, aquela figura serena e cheia de saber, mas também imensa de bondade e de carinho.

Foi a fonte da água mais límpida e preciosa que eu sorvi na medicina. Lanterna cuja chama arde pela imensidão do seu caráter e dignidade.

Não crepusculou e nem mesmo foi esquecido. Para nós, o William Osler (1849-1919) que não escreveu. Não precisava. Marcelo é a face mais bela e mais divina da medicina. Sócrates (468-400 a.C.) também não escreveu.

Até hoje patinamos atrás de alguém que tenha a sua nobreza, riqueza médica e humana.

Tal Diógenes (413-323 a.C.) em plena luz do século XXI, com um avanço impressionante da ciência e da tecnologia, vagamos, procuramos, insistimos em achar alguém que carregue consigo todos estes talentos que Marcelo geriu com tamanha competência.

Eu, humilde filho do sertão, jamais um dia imaginaria beber tão de perto algumas gotas de sabedoria deste esculápio especial. Com todos estes anos de medicina vagando por grandes centros do mundo, como a Mayo Clinic, a presença marcante deste gigante de saber, de caráter, de dignidade e sobretudo de amor pela medicina jamais se apagará. Foi honesto, como sempre, quando disse: eu sou médico e sou feliz.

JOSÉ MARIA BOMFIM DE MORAIS – Cardiologista

 
Fonte: Jornal Diário do Nordeste / Opinião / Idéias